segunda-feira, 8 de julho de 2019

# 9 - Séries: When They See Us

Bom dia malta!
Que tal correu esse fim de semana? Deu para aproveitar e fazer um monte de coisas giras? Ou ficar a descansar? Este tempo é que podia estar um bocadinho melhor, não? Já vamos em Julho e nada de calor a sério... Mas pronto, é o que temos. Antes isso que incêndios...
Hoje voltamos à rubrica "Séries" porque quero muito falar-vos da nova minissérie da Netflix "When They See Us" ou, em português, "Aos olhos da Justiça". São 4 episódios de cortar a respiração e dar a volta ao estômago de qualquer um...
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Criada por Ava DuVernay (nomeada para o Globo de Ouro e Oscar de Melhor Filme com "Selma"), esta minissérie conta a história daqueles que ficarem conhecidos como os Cinco do Central Park ("The Central Park Five"). Cinco adolescentes (4 negros e 1 latino) do Harlem foram condenados por um conjunto de crimes que não cometeram, relacionados com a agressão física e violação a uma corredora no Central Park, em 19 de abril de 1989.

Kevin Richardson, Yusef Salaam, Raymond Santana, Antron McCray e Korey Wise cumpriram penas entre os 7 e os 14 anos, os 4 primeiros em Centros de Detenção Juvenil por terem menos de 16 anos e o último numa prisão, tendo sido julgado como um adulto, por já ter 16 anos. A grande questão aqui é que não existiam quaisquer provas contra eles, a não ser os seus próprios depoimentos que foram arrancados à força pela polícia, durante interrogatórios de cerca de 30 horas, muitos sem a presença dos pais e todos sem a presença de um advogado, sem comer, beber ou dormir, mediante a falsa promessa de que, se colaborassem, podiam ir para casa. 

A série retrata o que se passou antes, durante e após o fatídico dia de 19 de abril de 1989 e, ainda, o julgamento, o tempo em que estiveram presos e como foi voltar a integrar a sociedade quando saíram. É, ainda, explicado que, 13 anos após o sucedido, o verdadeiro violador assume o crime e leva à exoneração total dos Cinco rapazes, que foram indemnizados pelo Estado americano em 36 milhões de euros.

O primeiro apontamento para esta minissérie vai para o excelente desempenho dos atores, particularmente os mais jovens e, em especial, para o ator que assume o papel de Korey Wise, Jharrel Jerome. É incrível a sua performance! Tornaram a série tão real, tão verdadeira, que me cheguei a esquecer que aqueles não eram os rapazes verdadeiros. O nó na garganta que nos fazem sentir é tão apertado que nem sempre resiste e, por vezes, desfaz-se em lágrimas, tal é a injustiça, a revolta que sentimos ao ver o que lhes aconteceu.

O segundo ponto que queria destacar é o que esta série significa, o que retrata. Ela demonstra um sistema judicial podre, que só quer encontrar um culpado e encerrar o caso, em vez que se preocuparem em fazer uma investigação verdadeira. Mostra um sistema judicial estupidamente racista, que culpou 5 pessoas totalmente inocentes apenas porque eram negros e latinos e que, por isso mesmo, só podiam ser criminosos. Mostra que não há igualdade de armas nem um julgamento justo, mostra que o medo vence a verdade, mostra que há impunidade para os brancos ricos e punição para os não-brancos pobres. E isso não só era uma realidade em 1989, como também é uma realidade em 2019. 

A série está estupidamente bem feita, os desempenhos dos atores são brutais, as cenas estão incrivelmente bem realizadas e o argumento... bem, esse foi feito por todos aqueles que contribuíram para este desfecho. Imprensa, grupos ativistas, polícia, políticos, pais, vítimas, criminosos, todos eles tiveram um papel de destaque no desenrolar desta história, para o bem e para o mal. Famílias foram destruídas, vidas foram interrompidas e outras dificilmente serão reatadas. Dinheiro nenhum pagará o que estes, agora homens, passaram. Dinheiro nenhum lhes trará a paz de espírito que mereciam, nem apagará as memórias do que passaram. Mas, pelo menos, agora podem deitar a cabeça da almofada e acreditar que o Mundo inteiro sabe que eles são inocentes.


Recomendo a 200% esta minissérie. Preparem-se para ficar incomodados, para chorar, para sentir raiva e vontade de entrar pela televisão dentro. Preparem-se para sentir pena, para quererem abraçá-los, para agradecer por não vivermos nos Estados Unidos. Porque, ainda assim, quero acreditar que aqui, em Portugal, as coisas, apesar de não serem perfeitas (longe disso!) não serão assim tão más...

Até amanhã***

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