6.ª Avenida: # 34 - Diário de Bordo: São Petersburgo

Bom dia e boa sexta!
Chegamos ao fim de uma semana mais curtinha de trabalho e não queria ir de fim de semana sem antes vos contar o resto da minha viagem pela Rússia. Já vos expliquei como tirar o visto e o que fiz em Moscovo. Agora está na hora de voar até São Petersburgo. Bora lá?

Como não tínhamos muito tempo (ficamos 3 dias em cada cidade), achamos que era uma boa ideia apanhar um voo entre Moscovo e São Petersburgo. Mas também podem ir de comboio. Para nós a escolha foi óbvia, já que queríamos chegar o mais rapidamente possível. Voamos pela S7 airlines, o voo tem a duração de 1h30 e custou-nos uns € 30,00, mais ou menos. Mas se comprarem com mais antecedência conseguem a cerca de € 20,00. Por isso, acho que compensa bastante. Do aeroporto há um autocarro que vos traz para junto do metro (que custa € 0,55) e, aí chegados, é só procurar a estação que fica mais perto do vosso alojamento.

Chegamos cedo a São Petersburgo e vimo-nos um pouco aflitos para encontrar o hotel. Mas tivemos uma ajuda preciosa de um barista numa loja de café. Percebemos imediatamente que São Petersburgo era um pouco diferente de Moscovo: mais aberta ao turismo, falavam melhor inglês, pessoas mais diferentes umas das outras, já parecia mais uma cidade europeia. Depois de pousarmos as malas no hotel, fomos diretos comer qualquer coisa a um restaurante Georgiano. Era bastante boa a comida, apesar de não termos conseguido pedir exatamente o que queríamos comer 😂 Mas estava tudo bom e isso era o que se pretendia.

A primeira paragem do dia era, sem dúvida, o Hermitage. E porquê? Porque na terceira 5.ª feira de cada mês ele é grátis. E adivinhem que dia era? Acertaram, era a terceira 5.ª feira do mês. Antes de lá chegar ainda passamos pela Catedral de S. Isaac que é gigantesca, com as sua cúpulas douradas. Os monumentos e todas as infraestruturas na Rússia estão impecavelmente bem tratadas e cuidadas. Até parece que têm alguém responsável por polir as cúpulas de todos os edifícios históricos, tal é a qualidade que eles apresentam.

Chegamos, finalmente, ao Hermitage e só o edifício principal (Palácio de Inverno) é incrivelmente bonito. Diz-se que nada representa tão bem a opulência da família Romanov como aquele Palácio. O museu fica numa praça, chamada Palace Square, com uma coluna no centro, a Coluna de Alexandre, e do outro lado da praça fica o General Staff Building, que alberga a parte Impressionista e pós-Impressionista da coleção. O edifício é, também, incrível! Tem uma fachada arqueada e contém uma abertura em arco com uma quadriga no topo, semelhante aos portões de Bradenburgo, em Berlim. Toda a praça é majestosa e imponente e sentimos que fazemos parte de algo maior, quando lá estamos.

Quanto às filas para entrar, não sei se estavam maiores que o normal por ser o dia grátis. Mas ficamos cerca de 35/45 minutos para entrar. Nada de especial. Fez-se bem e valeu bem a pena. É impossível ver o Museu todo num único dia. Não só porque ele é um dos maiores museus de arte do mundo (a coleção possui itens de praticamente todas as épocas, estilos e culturas da história russa, europeia, oriental e do norte de África), como também porque as obras estão distribuídas por dez prédios, dos quais sete constituem por si mesmos monumentos artísticos e históricos de grande importância. Por isso, é necessário fazer uma seleção prévia do que pretendem ver e ser eficiente.

O "problema" é aquilo com que não estamos a contar. Nós tínhamos uma ideia do que queríamos ver, mas a arquitetura do edifício deixou-nos completamente de boca aberta. O Palácio, por si só, faz com que aquele seja o museu mais bonito que já vi em toda a minha vida. Nós bem queríamos seguir rapidinho para ver tudo, mas ficávamos parados a admirar os tetos e os lustres e todo o esplendor daquele lugar. É mesmo muito bonito e impressionante.

Quando saímos de lá, já quase ao final do dia, ainda passamos pelo outro ex-libris da cidade: a Church of the Saviour on the Spilled Blood, a Catedral do Sangue Derramado. Fiquei muito chateada porque a cúpula principal estava a ser restaurada e ela perdeu um bocadinho do seu encanto. Tinha grandes expectativas, por isso fiquei um bocadinho desiludida. Mas ela era linda na mesma, a verdade é essa... Terminamos com um vislumbre da Catedral de Kazan, estupidamente gigante e monumental, na famosa avenida Nevsky Prospect (a principal da cidade).

Para o dia seguinte programamos uma visita à Fortaleza de Pedro e Paulo, na ilha de Zayachy. Este é o edifício mais antigo da cidade e cerca a catedral com o mesmo nome, onde repousa a maior parte dos czares. Serviu de prisão política nos tempos imperiais e revolucionários, tendo passado por lá nomes como Dostoevsky, Gorky e Trotsky. Se comprarem um bilhete combinado (cerca de € 10,00) podem ver a Catedral, o Museu de Ciência e Tecnologia, o Museu da Exploração Espacial, a prisão Trubetskoy e a Casa do Comandante, onde é retratada a história de são Petersburgo. O único problema é que há muito pouca informação em inglês e mesmo os funcionários não sabem falar a língua. Apanhamos uma senhora que, com gestos e algumas palavras em inglês, nos conseguiu orientar um pouco dentro da Casa do Comandante, mas é óbvio que precisam de rever esta situação. Ah, não percam a possibilidade de, ao meio dia, assistirem ao disparo de uma bala de canhão. Apesar de estar à espera, não deixei de estremecer e de me assustar com o barulho que aquilo faz... impressionante!

Daí seguimos a pé até ao outro lado, até à ilha de Vasilyevsky, e paramos em Strelka para apreciar a vista. É um ponto panorâmico para ver de um lado ao outro do Rio Neva. Quem está virado para o rio tem atrás de si a antiga Bolsa de Valores e, seguindo pela sua esquerda, o primeiro museu da cidade, Kunstkamera, atualmente um Museu de Etnologia e Antropologia. Parámos para almoçar o melhor Strogonoff que alguma vez comi, na cervejaria Grad Petrov. Recomendo!

Seguimos caminho até à Saint Andrew's Cathedral e daí voltamos para "terra". Passamos pela New Holland, uma ilha artificial onde decorrem vários eventos, desde concertos a aulas de ioga ao ar livre. Infelizmente estava... em obras! Seguimos para o Teatro Mariinsky, passamos pela Catedral Naval de São Nicolau e demos o dia por terminado quando conseguimos encontrar a Catedral da Trindade. Tínhamos visto num outdoor uma catedral branca com cúpulas azuis e estrelas douradas. Ficamos meio obcecados (talvez tenha sido só eu... 😂) com ela e não desistimos enquanto não a encontramos. E ainda bem, era linda de morrer! Terminamos a noite a fazer a Nevsky Prospect, uns 4 quilómetros de lojas, hotéis, restaurantes e bares, cheia de animação, pessoas a cantar na rua, edifício inacreditáveis...

O último dia foi mais calminho pois já levávamos muuuuitos quilómetros nas pernas. Começamos com uma visita ao cemitério do Mosteiro de Alexander Nevsky, mas, se quiserem também podem visitar a igreja em si. Na Necropolis of The Masters encontram-se sepultados grandes nomes das artes russas, como Dostoevsky e Tchaikovsky. Daí voltamos para o centro para fazer um cruzeiro. São Petersburgo é uma espécie de Veneza do Báltico, pois tem vários canais, por onde circulam pequenos barcos, o que dá um encanto especial à cidade. O pior é que os cruzeiros em inglês só começam em Maio, por isso, fizemos um em russo. Não aprendemos grande coisa, mas foi uma viagem gira. No fim, tínhamos à nossa espera os melhores e mais pirosos souvenirs de sempre: uma foto nossa (que nos tiraram quando entramos no barco) colada num pratinho de louça que é um íman! Simplesmente mágico! Obviamente que o trouxemos e já está em exposição no frigorífico!

Antes de nos despedirmos da Rússia decidimos ir visitar a Catedral do Sangue Derramado, por dentro. E digo-vos: vale bem a pena! Nunca vi tanta opulência, tanto brilho, tanto tudo e mais alguma coisa. É simplesmente inacreditável. Só visto. E acho que as fotografias nem sequer lhe fazem jus... O dia já ia longo, estávamos de rastos e demos a visita por encerrada com um copo no café da Casa Singer. Este edifício lindíssimo fica localizado na Nevsky Prospect, mesmo em frente à Catedral de Kazan. Entre outras coisas, alberga uma loja de livros e souvenirs e um café, com uma vista inacreditável.

Não conseguimos ir ao Palácio de Catarina e ao Peterhof, não só porque ficam afastado da cidade, mas sobretudo porque não abrem antes de Maio... Por isso, nem que quiséssemos, não houve essa oportunidade...

Tivemos uma última peripécia na despedida: o nosso voo era às 5h da manhã. Por isso perguntámos no hotel se nos podiam chamar um taxi. Dissera que sim, que tinha um serviço de transfer, que nos custaria ₽ 2000 (quase € 30,00). Dissemos que íamos pensar. Sacamos o Uber Russia e fizemos a pesquisa: ₽ 700 (menos de € 10,00). Rejeitamos o transfer, mas a malta no hotel não ficou muito contente. Às 2h da manhã, ora a que saímos, disseram que estava lá o transfer que não queríamos e já nos faziam por ₽ 800. Mantivemos a nossa e fomos de Uber. Íamos morrendo quando o motorista começou a ignorar o GPS e a seguir por zonas super duvidosas, durante a madrugada. Mas afinal foi tudo tranquilo! Até nos levou a ver a estátua de Lenine em frente à estação Finlyandskyi! Valeu bem a pena 😄

Em conclusão, adorei igualmente São Petersburgo e tenho muita dificuldade em dizer de qual das duas cidades russas gostei mais. Achei Moscovo mais diferente, até pelas pessoas. São Petersburgo já é mais turístico e sentes-te lá como em qualquer capital europeia. Mas é incrivelmente bonito e o Hermitage vale por tudo e mais alguma coisa. Recomendo ambas, recomendo a Rússia, sem qualquer dúvida!